terça-feira, 23 de setembro de 2008

Zico


Arthur Antunes Coimbra, o galinho de Quintino

Zico nasceu no dia 3 de março de 1953, em Quintino, subúrbio do Rio de Janeiro, em uma casa onde se respirava futebol. Seus irmãos mais velhos, Edu e Antunes, com fama de habilidosos, já jogavam no América quando o garoto, aos 13 anos, resolveu seguir a mesma carreira. Entretanto, foi tentar uma vaga no juvenil do Flamengo, seu time do coração.

Tinha muita habilidade, mas faltava corpo. Passou por um programa de alimentação reforçada e muito exercício com peso para ganhar massa muscular. Vivia-se o tempo da Ditadura Militar implantada no País em 1964 e o futebol incorporava métodos militares. O técnico da Seleção era o capitão Cláudio Coutinho. O Campeonato Brasileiro a cada ano tinha mais times, de todos os cantos da nação, pois o objetivo, mais do que esportivo, era o da “Integração Nacional”. Não bastava ser craque. Era preciso ser forte e resistente para suportar a maratona de jogos. De garoto subnutrido, Zico deveria se transformar em um super-homem. E ele seguia a cartilha à risca. Em 1972, aos 19 anos, fez parte do elenco campeão carioca e dois anos depois já era um dos destaques do time que ganhou o campeonato estadual.

Tanto podia avançar em velocidade, driblando os zagueiros em zigue-zague e protegendo a bola com rara eficiência, como fazer lançamentos ou cobrar faltas com maestria. Tinha um drible curto desconcertante e uma visão de jogo extraordinária. Com ele o Flamengo se tornou um dos melhores times do País, e do mundo.

Era arrepiante ouvir a massa rubro-negra que tomava as arquibancadas do Maracanã gritar seu nome, com devoção e esperança: Zico! Zico! Zico! E ele não decepcionava. Foi seis vezes artilheiro do campeonato carioca e seis vezes campeão estadual; duas vezes artilheiro e quatro vezes campeão nacional; campeão sul-americano e mundial interclubes em 1981. Com a camisa do Flamengo, que com ele viveu sua melhor fase na história, marcou 508 gols em 731 jogos.

No começo os críticos diziam que Zico só conseguia render o máximo no Maracanã, diante de sua apaixonada torcida. Mas com o tempo convenceu a todos de que se tratava de um super craque. Só não conseguiu jogar todo o seu futebol defendendo a Seleção Brasileira nas Copas do Mundo de 1978, 82 e 86.

Em 78, na Argentina, ele foi como titular, mas, tímido, perdeu a posição para Jorge Mendonça. Em 1982 teve grandes atuações e formou um meio-campo lendário com Falcão e Sócrates, mas contra a Itália se apagou diante da marcação de Gentile e o Brasil, que só precisava do empate, foi eliminado nas quartas-de-final ao perder por 3 a 2. Em 86, voltando de grave contusão, acabou perdendo o pênalti contra a França que levaria o Brasil à semifinal.

A contusão, acontecida um ano antes (29/08/1985), em partida do campeonato carioca, contra o Bangu, foi uma das mais traumáticas do futebol brasileiro. Zico era o grande ídolo do futebol nacional e nunca mais foi o mesmo depois que Márcio Nunes esqueceu a bola e entrou com os dois pés no seu joelho esquerdo. Em meio a quatro cirurgias, o “Galinho de Quintino”, como era conhecido, se empenhou em um exaustivo programa de recuperação à base de exercícios com peso. Aos 33 anos ainda conseguiu ser convocado para a Copa de 86, no México. Em 94 partidas pela Seleção brasileira, marcou 68 gols. Em 1987 conquistou seu quarto título brasileiro pelo Flamengo.

Zico ainda jogou no humilde Udinese, da Itália, de 1983 a 85, e conseguiu ser o vice-artilheiro do Campeonato Italiano de 1983, apenas um gol atrás do francês Michel Platini, que fez seis partidas a mais e ainda pela poderosa Juventus de Turim. O Galinho de Quintino encerrou a carreira atuando pelo Kashima Antlers, do Japão, de 1991 a 94. Tornou-se um ídolo e o maior responsável pelo crescimento do futebol naquele país. Desde 2002 é o técnico da Seleção Japonesa.

Uma curiosidade: o apelido de Galinho não se deveu à sua bravura, mas sim ao costume de imitar uma galinha sempre que o pai, goleiro do time de Quintino, engolia um frango.

Entre 1990 e 91 foi Secretário de Desportos do presidente Fernando Collor, mas pediu demissão por falta de verbas. Em seguida montou seu próprio clube, o CFZ (Centro de Futebol Zico). Em 1998, atuando como coordenador-técnico da Seleção Brasileira, foi o responsável pelo corte do atacante Romário, seu desafeto. Romário havia dito que Zico fizera parte de uma geração perdedora.

Odir Cunha /blog história do futebol

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