terça-feira, 11 de novembro de 2008

O único pequeno que já foi campeão do Rio




Em 21 de novembro último, a Fifa tirou de Leônidas um dos gols do Brasil na vitória por 2 x 1 sobre a Tchecoslováquia na Copa de 1938. O novo autor do tento foi Roberto, que se tornou o único jogador do São Cristóvão a marcar em Copas do Mundo. Dia de festa dupla na Figueira de Melo, pois justamente naquele dia o clube comemorava o 80º aniversário de seu título carioca, o único estadual conquistado por uma equipe pequena – considerando que historicamente Bangu e América são médios e o Paysandu não existe mais – do Rio de Janeiro.

Em 1926, ser um clube pequeno não significava necessariamente que havia um abismo intransponível até os grandes. O Vasco, por exemplo, estava a apenas três anos na primeira divisão e já tinha um bicampeonato estadual no currículo. O próprio São Cri-Cri não era insignificante. Em 1918, 23 e 24, o Alvinegro terminara o campeonato em terceiro lugar.

De qualquer forma, no início do Carioca de 1926, os favoritos eram Vasco, Flamengo e Fluminense. Na estréia, o São Cristóvão mostrou força e venceu o Botafogo por 6 x 3. No entanto, o time da Figueira de Melo perdeu de 6 x 2 do Fluminense na rodada seguinte e reforçou sua condição de azarão.

Aos poucos, porém, a estratégia do técnico Luís Vinhaes começou a se fazer notar. O treinador era discípulo do uruguaio Ramón Platero, campeão com o Vasco em 1923 e 24. Ambos tinham por princípio impor treinamento intenso aos jogadores, com enfoque no preparo físico e na força para os padrões ao amadorismo da época. No caso de Vinhaes, ainda deve-se acrescentar o discurso motivacional apurado.


Mesmo sem resultados brilhantes, o São Cristóvão foi colhendo pontos. Venceu Vila Isabel (3 x 2) e Vasco (2 x 1) apertado antes de deslanchar com um acachapante 5 x 0 sobre o Flamengo. O time seguiu com sua campanha consistente e discreta, com vitórias sobre Syrio e Libanez (3 x 1), Brasil (8 x 2), América (3 x 1) e Botafogo (4 x 3) e empate com Bangu (2 x 2).

No início do segundo turno, o São Cristóvão venceu o Fluminense por 4 x 2 e se colocava como candidato ao título. Uma derrota para o Vasco (2 x 3) complicou a situação, pois os cruzmaltinos já se colocavam como principal concorrente na competição. Ainda assim, com vitórias consecutivas sobre Vila Isabel, Brasil, Syrio e Libanez e Bangu colocaram o clube da Figueira de Melo em situação confortável. A equipe tinha 27 pontos ao lado do Fluminense. O Vasco estava com 29 do Vasco, mas tinha duas partidas a mais e já encerrara sua participação.

Em 19 de setembro de 1926, o São Cristóvão empatou em 4 x 4 com o América e se beneficiou da derrota do Fluminense para o Flamengo por 2 x 0. Com isso, bastaria ao Alvinegro vencer o desinteressado Rubro-negro na partida decisiva. Os dois times já haviam se enfrentado no returno com vitória flamenguista por 3 x 1. No entanto, o jogo foi interrompido e cancelado, dando essa nova chance ao São Cri-Cri.

No jogo decisivo, realizado em 21 de novembro de 1926 no estádio da Rua Paysandu, o São Cristóvão sobrou em campo. Com o artilheiro Vicente em jornada inspirada, o time da Figueira de Melo fez 5 x 1 e conquistou, pela primeira e única vez, o Campeonato Carioca. Com os três gols na decisão, Vicente passou o vascaíno Russinho e ficou com a artilharia do torneio.

Súmula do Jogo


FLAMENGO (RJ) 1 x 5 SÃO CRISTOVÃO (RJ)
Campeonato Carioca de 1926
Data: 21/11/1926
Local: Estádio da Rua Paysandu / Rio de Janeiro
Árbitro: Carlos Martins da Rocha
FLAMENGO: Amado; Pennaforte e Hélcio; Favorino, Flávio (Alfredo) e Japonês; Allemand, Aché, Nonô, Fragoso (Vadinho) e Moderato.
SÃO CRISTOVÃO: Paulino; Póvoa e Zé Luiz; Julinho, Henrique e Alberto Corrêa; Oswaldo, Octávio, Vicente, Arthur e Teófilo.
Gols: Allemand, Octávio (2) e Vicente (3)
Depois do título carioca, o técnico Luís Vinhaes ganhou espaço. Em 1934, foi o treinador da seleção brasileira na Copa da Itália. Em 1933, levou o Bangu a seu primeiro título carioca.

Além do Carioca de 1926, o São Cristóvão também conquistou o Torneio Início em 1918, 28, 35 e 37. Também ficou com o vice-campeonato estadual em 1934.

Outro título, quase esquecido, foi o do Torneio Municipal de 1943. A competição era forte e o São Cristóvão teve de superar, em pontos corridos de um turno, América, Bangu, Bonsucesso, Botafogo, Canto do Rio, Flamengo, Fluminense, Madureira e Vasco.

O São Cristóvão era tão respeitável na época que mandou cinco jogadores para defender o Brasil em Copas do Mundo. Em 1930, foram Zé Luiz, Doca e Teófilo. Em 1938, Afonsinho e Roberto.

Antes que alguém ache que o Balípodo esqueceu, todos já sabem que foi no São Cristóvão que o Ronaldo começou a jogar.

Ubiratan Leal

Fonte: http://www.gardenal.org/balipodo/

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